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Um lugar para chamar de meu. Meu sítio virtual. Meu cadinho.

Lugar de gritos e sussurros. Pedaço de mim.

'Onde eu possa juntar meus amigos, meus discos e livros...'

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

as múltiplas vozes da alma I

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”.


Clarice Lispector

terça-feira, 27 de setembro de 2011

tudo coberto por largos e brancos lençóis

meu cadinho tem andado vazio. portas e janelas fechadas. móveis cobertos por largos e brancos lençóis. trancado e silencioso como a casa no lago, que fica todo o ano fechada e só respira ar puro no início do verão, quando se vê invadida por risadas, latidos e uma constante corrente de ar.

não fechei meu cadinho por não gostar dele. não! pelo contrário, é aqui que sou mais eu, livre e feliz. esse é meu recôncavo, meu santo amaro, minha rua do ouvidor, minha abbey road, meus rododendros. tenho vindo pouco porque a vida me engoliu!

ando escrevendo, mas nada que valha ser divido. meus pensamentos andam embotados de química, de medos. confusos. crus. talvez um dia eu os traga pra cá, os arrume nas estantes e os leia. mas nesse momento eu os escondi até de mim!

passarei mais uns dias sem passar por aqui. mas eu volto logo.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

de ser eu

no topo da minha lista de desejos, há um desejozinho, daqueles que guardamos embaixo de outras vontades, bem escondido pra que nem a gente lembre. é um desejo de ser eu mesma. um desejo de ser alexandra até a enésima potência, de ser tão eu quanto o universo pode ser ele. há, é claro, uma série de impossibilidades para cada desejo que temos. muitas coisas me impedem de realizar meu desejo de ser eu mesma. muitas coisas: o mundo, as pessoas, meu medo de ser quem sou. ser eu mesma é o mais antigo dos meus desejos. desde sempre quis ser eu. quando era pequena me imaginava sendo eu adulta: cabelos longos trançados com fitas e flores, casas de janelas abertas com vasos de margaridas no peitoril. eu adulta era o máximo!!! liberta, forte, emancipada, dona do meu nariz, dos meus quadris, dos meus sonhos... essa eu que eu achava que seria quando fosse, era muito bacana. - bacana é gíria de gente velha, me dizem, mas ainda não achei nada mais bacana do que bacana pra falar de mim!!!
fui me preenchendo com tantos pedaços quanto pude ao longo do caminho. coloquei algumas linhas no meu rosto, tirei alguns fios do meu cabelo, alguns tingi de vida, outros cortei. com o passar dos anos modifiquei tanto meu sonho, que me esqueci dele e, de repente, ser eu mesma não era mais a prioridade, não era mais um desejo. tornei-me adulta. criei laços, cumpri prazos, plantei árvores, fiz arroz, li muitos livros, pari. e aquele sonho de ser alexandra ficou dentro da gaveta no armário dos sonhos. 
agora, depois de muitos anos, encontrei-o de novo enquanto arrumava as gavetas da alma. é a vida me dando outra chance. sou eu mesma me dando outra chance. será que inda há tempo de ser eu mesma?

sem título XXVII

da vida conheço pouco
alguns doces com açucares e frutas
alguns vinhos com açucares de frutas
alguns ninhos sem açucares ou frutas

gosto da palavra açucares
assim, no plural, excessos
exageros de mel que grudam nos dentes 
e no céu da boca

ando cansada de sal
é sal demais
nos pratos rasos
nos colos vazios
nos salários baixos
nos dentes com cárie

vontade doce de salgar o mundo

sem título XXVI

essa infelicidade não é novidade
é coisa antiga
que me acompanha faz tempos
essa tristeza é de anos de abandono e maus tratos
anos em que me deixei de lado pra cuidar dos outros

os outros. os outros. os outros.
deixei muito de lado por conta deles.
deixei meus sonhos mais bonitos
deixei meus cabelos de tranças.
deixei minhas danças.

esqueci de tudo o que planejei.
minha casa com janelas amarelas
meu jipe verde
meu tênis bamba.
minha calça jeans.

perdi o brilho e o viço
quebrei-me como uma folha de açucar,
despetalei-me.
enterrei-me.
perdi-me.
sufoquei-me.
acabei.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

o leme é meu!

quase nunca sei quem sou ou de onde vim. essa via de nascimento e crescimento que nos transforma em quem somos, nos coloca em nosso lugar e nos pinta com nossas cores. mas quem escolhe esses caminhos? quem decide qual é o nosso lugar? quem escolhe nossas cores? quem, fora de nós, pode tomar essas decisões? não!! eu não vou me sentar aqui, quietinha, e deixar que decidam minha vida! o vento pode ser pra todos, os caminhos podem ser pra todos, mas o leme, ah!, o leme, esse é só meu!!!!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

não necessariamente nessa ordem

minha religião é o amor. o amor em todas as suas facetas. o amor sacro e profano de teresa d'ávilla, o amor liberto de dogmas de florbela espanca, o amor guardado sob montanhas e rios de drummond, o amor vento frio e alma quente de quintana, o amor amigo de roberto e erasmo. só o amor me cura. o amor e a poesia. o amor e a poesia e o teatro. o amor e a poesia e o teatro e a literatura. o amor e a poesia e o teatro e a literatura, não necessariamente nessa ordem.