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Um lugar para chamar de meu. Meu sítio virtual. Meu cadinho.

Lugar de gritos e sussurros. Pedaço de mim.

'Onde eu possa juntar meus amigos, meus discos e livros...'

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

sem título XXXVI

há tantas vozes
tantos sons
guardo em mim um desejo:
queria ouvir todas as canções que existem!



acalanto
voz doce que me embala
e me leva pra longe
e me leva de volta ao tempo ancestral
ao que há antes do início

'a minha estrada'*
a nossa estrada
nossa órbita e nosso sol
passeios, luzes

com você eu danço!


marcia, in álbum dá

sem título XXXV

a cidade entra pela janela atras de mim
buzinas, roncos, gritos, freadas, sirenes.
a cidade vem gritar em meus ouvidos,
me perturbar, me trazer de volta.
a cidade não me deixa só,
ela tem medo dos meus pensamentos, não me permite.
a cidade quer me sitiar,
me excluir, me tornar igual, me diluir.

mas eu não me entrego, puxo a cortina,
inundo a sala de lavandas, respiro bem devagar e volto!




as múltiplas vozes da alma IV

Nunca
Vitor Paiva


Nunca, diga não pra mim
Eu não vou poder trabalhar, conversar, descansar sem o seu sim
Seja sempre assim
Por favor me dê um sinal
Um cartão postal, um aval dizendo assim
'não, não é o fim, dure o tempo que você gostar de mim
Entre o não e o sim, só me deixe quando
o lado bom for menor do que o ruim'

Nunca se esconda assim

Eu não vou saber te falar, te explicar que
Eu também me assusto muito
Você nunca vê que eu sou só um menino destes tais
Que pensam demais
Logo mais, vou correr atrás de ti.

'não, não é o fim, dure o tempo que você gostar de mim

Entre o não e o sim, só me deixe quando
O lado bom for menor do que o ruim' 

sábado, 25 de agosto de 2012

o teatro da crueldade II


segundo manifesto

'confesso ou não-confesso, consciente ou inconsciente, o estado poético, um estado transcendente de vida, é no fundo aquilo que o público procura através do amor, do crime, das drogas, da guerra ou da insurreição. o teatro da crueldade foi criado para devolver ao teatro a noção de uma vida apaixonada e convulsa; e é neste sentido de rigor violento, de condensação extrema dos elementos cênicos, que se deve entender a crueldade sobre a qual ele pretende se apoiar. essa crueldade, que será, quando necessário, sangrenta, mas que não o será sistematicamente, confunde-se, portanto com a noção de uma espécie de árida pureza moral que não teme pagar pela vida o preço que deve ser pago.

(...) pretende não abandonar para o cinema a tarefa de produzir os Mitos do homem e da vida modernos. mas fará isso de um modo que lhe é próprio, isto é, em oposição à tendência econômica, utilitária e técnica do mundo, voltará a pôr em moda as grandes preocupações e as grandes paixões essenciais que o teatro moderno cobriu com o verniz do homem falsamente civilizado. esses temas serão cósmicos, universais, interpretados segundo os textos mais antigos, tirados das velhas cosmogonias mexicana, hindu, judaica, iraniana, etc.

(...) renunciaremos à superstição teatral do texto e à ditadura do escritor. e assim reencontraremos o velho espetáculo popular traduzido e sentido diretamente pelo espírito, sem as deformações da linguagem e os escolhos do discurso e das palavras.

(...) no teatro digestivo de hoje, os nervos, ou seja, uma certa sensibilidade fisiológica, são deixados deliberadamente de lado, entregues à anarquia individual do espectador, o teatro da crueldade pretende voltar a usar todos os velhos meios experimentados e mágicos de ganhar a sensibilidade.'



antonin artaud, in o teatro seu duplo, p 61, 62, 63






sexta-feira, 24 de agosto de 2012

bodas de porcelana

encontrei o lu no dia do aniversário do leminski. só podia ser presságio!

comemorando com poesia:



 AMOR BASTANTE


        quando eu vi você
        tive uma idéia brilhante
        foi como se eu olhasse
        de dentro de um diamante
        e meu olho ganhasse
        mil faces num só instante

        basta um instante
        e você tem amor bastante



paulo leminski, in caprichos e relaxos, 1983.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

o teatro da crueldade


primeiro manifesto

'o teatro só poderá voltar a ser ele mesmo, isto é, voltar a constituir um meio de
ilusão verdadeira, se fornecer ao espectador verdadeiros precipitados de sonhos, em que
seu gosto pelo crime, suas obsessões eróticas, sua selvageria, suas quimeras, seu sentido
utópico da vida e das coisas, seu canibalismo mesmo se expandam, num plano não
suposto e ilusório, mas interior.


em outras palavras, o teatro deve procurar, por todos os meios, recolocar em
questão não apenas todos os aspectos do mundo objetivo e descritivo externo, mas
também do mundo interno, ou seja, do homem, considerado metafisicamente. só assim,
acreditamos, poderemos voltar a falar, no teatro, dos direitos da imaginação. nem o
Humor nem a Poesia nem a Imaginação significam qualquer coisa se, por uma
destruição anárquica, produtora de uma prodigiosa profusão de formas que serão todo o
espetáculo, não conseguem questionar organicamente o homem, suas idéias sobre a
realidade e seu lugar poético na realidade.'



antonin artaud, in o teatro seu duplo, p 43


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

reflexões I


"(...) a morte é nossa eterna companheira - falou dom juan, com um ar muito sério. - está sempre à nossa esquerda, à distância de um braço.

(...) ela sempre o espreitou. sempre o fará, até o dia em que o tocar.


(...) o que se deve fazer quando se é impaciente - continuou ele - é virar-se para a esquerda e pedir conselhos a sua morte. você perderá uma quantidade enorme de mesquinhez se sua morte lhe fizer um gesto, ou se a vir de relance, ou se, ao menos, tiver a sensação de que sua companheira está ali, vigiando-o.


(...) a morte é a única conselheira sábia que possuímos. toda vez que sentir, como sente sempre, que está tudo errado e você está prestes a ser aniquilado, vire-se para sua morte e pergunte se é verdade. ela lhe dirá que você está errado; que nada importa realmente, além do toque dela. sua morte lhe dirá: 'ainda não o toquei.'"




:dom juan. in viagem a ixtlan, carlos castañeda, p 46 e 47:

terça-feira, 7 de agosto de 2012

avesso

avesso,
costuras expostas
ando do lado de fora
carne viva
vermelha
sangrando

a etiqueta diz pra lavar à mão
secar à sombra
e passar à seco

carne viva é coisa frágil

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

para MariB





Aliás... como você está? ^^


sem lenço e sem documento

caminhando e cantando

nem sempre ganhando nem sempre perdendo,

mas não seguimos à toa!



tenho uns amigos tocando comigo,

sei que além das cortinas são palcos azuis e

pra elevar minhas idéias não preciso de incenso 

eu existo porque penso!




(Caetano Veloso, Geraldo Vandré,Guilherme Arantes, Arnaldo Antunes, Humberto Gessinger, Chico Buarque, Zeca Baleiro)