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Um lugar para chamar de meu. Meu sítio virtual. Meu cadinho.

Lugar de gritos e sussurros. Pedaço de mim.

'Onde eu possa juntar meus amigos, meus discos e livros...'

domingo, 16 de maio de 2010

...

Eu, joanadarkouvindovozes,
corro em direção à luz que
acendeapagaacende
e, hamiletiando
sendonãosendo
me pergunto se nesse reino há algo de bom
ou se todos os podres de Macbeth já nos
alcançaramancharamudaramarcaram
Eu, joanadarkouvindovozes,
me pergunto
se devo ir ou ficar
minha voz calada
grita
sussurra
implora
por ouvidos que ouçam
bocas que beijem
meus braços feitos para abraçar
estão cheios de corpos vazios
“Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”
Onde é que há gente?

terça-feira, 11 de maio de 2010

Cansada

Minha alma hoje acordou cansada.
Cheia de meninosmalabaristas de sinal
de mães de barrigas vazias e olhos cheios
de pais de bolsos vazios e caras cheias
de políticos de bolsos cheios e corações vazios
Minha alma tomada de todas as dores do mundo
Acordou cansada
sem vontade
sem sonhos
sem nomes
sem cores
Minha alma, doída, triste,
acordou cansada
virou pro lado e voltou a dormir...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dá série: quando eu crescer eu quero ser...

Foi o sol. Ou a névoa fina que encobria a cidade hoje cedo. Cedinho. Talvez tenha sido a névoa primeiro, dando um ar de fim de tarde... Mas era cedo.
No caminho até o ponto de ônibus, coloquei-me a serviço do peripatético. “ O bom pensar” como disse Lobato. E então fui cercada. Pensamentos que vinham de todos os lados, dos meus bolsos, minha bolsa, meus pés.
Lembrei-me do espanto estampado no rosto minha filha, era pequena ainda com no máximo 5 anos, quando lhe perguntaram o quê ela “queria ser quando crescer?” Ela olhou bem séria e disse: “ Aisha, ué?! Quando eu crescer eu vou ser Aisha”. (Talvez caiba explicar que Aisha é o nome dela).
Foi então que aconteceu, uma enxurrada de versos. Vieram com muita pressa, num rio caudaloso de estrofes.
E então pensei: quem eu queria ser quando crescesse, caso não fosse continuar sendo eu mesma. Dá pra entender? E resolvi escrever essa série: pessoas pra ser quando crescer.

Eis a primeira:


Cecília Meireles
Mulher ao Espelho
publicado em MAR ABSOLUTO - 1945.


Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
Já fui Margarida e Beatriz,
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira,
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Da série: por que não fui que fiz?

Paciência
Lenine


Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
(a vida não para não... a vida não para)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Bate estaca

Bate estaca
Bate estaca
Martelando
Martelando
Acordo e sinto que tentam
Enfiar coisas na minha cabeça

Bate estaca
Bate estaca
Martelando
Martelando
Não sou máquina, sou gente

Todos tristes presos em suas caras de trabalho
Todos apertados em suas roupas de trabalho
Todos saltos altos em seus sapatos de trabalho
Num baile de máscaras

Quero leveza, quero brilho, quero alma
Vamos falar de Godart
Sacanear os livros da Danielle Steel
Rir com Jorge Amado
Dançar um frevo rasgado
Estou aqui
Mas não quero entrar nessa lata
Prefiro ser a galinha
Que ser a sardinha!

Alexandra Moraes e Luciano Pozino

domingo, 2 de maio de 2010

Rever. Reverso. Vide-o-verso.
Antes. Atrás. Ante.
Início. Começo. Parto. Idéia.
Sonho. Desejo. Anseio. Vontade.
Medo. Falta. Coragem.
Fome.
Antigo. Novíssimo. Quebrado. Rompido. Perdido.
Escangalhado.
Dentro. Fora. Perto. Ao lado.
Alado. Voador.
Dentro tudo é visto pelo lado de fora.

sábado, 1 de maio de 2010

Da série: por que não fui que fiz?

quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina

sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma

(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)

acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim

e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás

um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos

acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando

Viviane Mozé
Poema do livro Pensamento do Chão, poemas em prosa e verso.