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Um lugar para chamar de meu. Meu sítio virtual. Meu cadinho.

Lugar de gritos e sussurros. Pedaço de mim.

'Onde eu possa juntar meus amigos, meus discos e livros...'

quinta-feira, 26 de maio de 2011

sem título XXIII

vontade de deitar minha
cabeça em teu colo
e olhar as luzes dos postes
começando a acender
enquanto nos enchemos de sons.

desenhando caminhos
neste fim de tarde, tão claro e azul,
de outono!

amo minha cabeça assim,
deitada em teu colo.
o volante como leme
nos leva daqui
singra os ventos estradeiros
e nos leva
para longe
               bem longe
                              tão longe
que não há volta.

olhas tão dentro de mim
vês tão fundo em minha alma
que já vês o futuro
algo que ainda nem sei,
o contrário das estrelas,
um eu que ainda não fui.

música. colo. estradas.
lusco-fusco.
luzesdepostesquepassam.
música. cabeça.
silêncios. amor.

sem título XXII

não me reconheço mais,
entre eu e eu
nasceu alguma coisa
que não sei o que é

a coisa se (o) põe
entre mim e mim
é estranha
e não tem nome

é inominável, a coisa
é incompreensível
é inconfessável
é inoperante
é separatista

é véu que não chora
fica parado, não venta
é véu que tampa,
não cobre

meu reflexo embotado
recortado por mim
desgastado,
não sou eu

é a coisa,
entre eu e eu
e mim e mim
há a coisa.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Das coisas que nos salvam I

Existem coisas que surgem e nos salvam, nos retiram do lugar-comum, da mesmice, dessa calmaria que interrompe a viagem e nos entrega a inércia.
Pois hoje fui salva da inércia por essa canção, e por essa banda, e por essas pessoas, e por esse som... muito bom!!!
Não sei se pra sempre, mas hoje, nesse meu agora, nesse momento me sinto salva pra sempre...



A Banda Mais Bonita da Cidade
Oração
Uyara Torrente Rodrigo Lemos Vinicius Nisi Diego Plaça Luis Bourscheidt

Agora é fato, é tato, olfato, paladar, audição.

É, agora tenho certeza. Com o remédio vem às dores e a falta de cores. E os suores. E tudo aquilo que sai, mesmo que eu insista em guardar tudo pra mim.
Tudo me é demais. Duro demais, cinza demais, feio demais, pouco demais...
Meus ouvidos gritam pro mundo, gritam.
Tudo dói, tudo eu sinto. O remédio traz a dor. Até agora era como se tudo fosse só uma suposição, loucura, praga.
Agora é fato, é tato, olfato, paladar, audição. Agora é de verdade, é na carne.
Engraçado é pensar que as reprises virão, infalíveis, impassíveis, indizíveis... sempre mais do mesmo, mais do mesmo pra virar menos do mais, sei lá...
Mareada, enjoada, embarcada, encharcada...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

13 de maio

Como bem disse João Ubaldo "somos o maior povo mestiço sobre a face da terra".


Em homenagem a nossa mestiçagem, a essa maravilhosa mistureba racial que somos nós, vou pedir licença ao Lenine e fazer meus os versos dessa canção:



Etnia Caduca
Lenine


É o camaleão
Diante do arco-íris
Lambuzando de cores
Os olhos da multidão.

É como um caldeirão
Misturando ritos e raças,
É a missa da miscigenação.

Um mameluco maluco
Um mulato muito louco
Moreno com cafuzo
Sarará com caboclo
Um preto no branco
E um sorriso amarelo banguelo

Galego com crioulo
Nissei com pixaim
Curiboca com louro
Caburé com curumim

É o camaleão e as cores do arco-íris
Na maior muvuca,
Ô... etnia caduca!




terça-feira, 10 de maio de 2011

Da série: exercendo outros eus IV

Serra Do Luar
De Walter Franco
Com Leila Pinheiro


Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descansar

Viver é afinar o instrumento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Amor, vim te buscar
Em pensamento
Cheguei agora no vento
Amor, não chora de sofrimento
Cheguei agora no vento
Eu só voltei prá te contar
Viajei...Fui prá Serra do Luar
Eu mergulhei...Ah!!!Eu quis voar
Agora vem, vem prá terra descançar

Viver é afinar o instrumento (de dentro)
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro

Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro
A toda hora, todo momento
De dentro prá fora
De fora prá dentro



terça-feira, 3 de maio de 2011

Em tiras

Não havia nada que pudesse fazer. Os dados foram lançados e, contra os dados, não há como lutar.

Arrumou suas pobrezinhas com calma. Cabia tudo numa pequena maleta de couro. Única peça que herdara da mãe. Duas blusas, uma velha calças lee, algumas calcinhas e sutiãs.
Colocou a maleta logo na entrada, à esquerda do portão.

Tornou a entrar. Arrumou a mesa, a cama, passou uma vassoura na casa. Depois tomou um longo banho morno, se perfumou, se penteou, um pouquinho de batom.

Esperou.

Quando ele chegou, ela já havia bebido duas garrafas de vinho. Ele vinha com aquele cheiro que ela já aprendera a reconhecer: pinga, perfume barato e sexo. “Quantas vagabundas ele comeu hoje?” Ela começou a pensar mas logo desistiu. Não fazia sentido.

Ao olhar a casa arrumada, a mesa posta e a mulher cheirosa e meio bêbada, ele se espantou e se animou.

Ela lhe serviu uma taça de vinho, um bom prato de risoto. Tentou conversar normalmente. Não. Normalmente não. Normalmente ele não falaria com ele.

Depois foram pra cama. Ela deixou que ele se lambuzasse. De quatro. De lado, por baixo, por cima... Até que ele caiu duro, babando.

Então ela começou a executar seu plano. Levantou bem devagar , amarrou os pés e as mãos daquele que já fora seu grande amor. Nesse momento uma tristeza antiga apoderou-se dela. Olhando-o ali, deitado, com o veneno começando a fazer efeito, chegou a pensar em desistir... “Não!” Gritou alguém dentro dela, “desistir nunca! Começou, agora termina. Acaba logo com isso de uma vez por todas!”

Então ela deu andamento ao seu plano. Pegou a gilete na gaveta e começou a corta bem devagar. Foi tirando pequenas tiras. Uma para cada bofetada, humilhação que havia recebido dele.

Eram muitas, e ela levou horas nesse serviço. Precisa ser bem feito, afinal ele sempre gostou de tudo muito bem feito. E não era agora que ela iria desapontá-lo!

Chorou muito. Ora de tristeza, afinal havia verdadeiramente amado aquele homem, ora de gozo e vingança. Por fim arrumou toadas as tiras lado a lado na penteadeira, entre os perfumes baratos que ele tanto gostava.

Tomou um banho, se maquiou, pôs uma roupa nova, soltou o cabelo e foi.

Na esquina, com a pequena maleta de couro na mão, parou, olhou para trás e sorriu.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

sem título XXI

não que eu não tenha sonhos, tenho sim.
sonhos coloridos como balões de festa
sonhos com formatos de nuvens
sonhos com cheiro de alfazema e macela.

não que eu não deseje coisas, desejo sim.
coisas que eu ainda não tenho
coisas que eu já tive e se perderam no tempo
coisas que jamais  serão minhas.

não que eu não chore, choro sim.
lágrimas quentes e salgadas que rolam na face
lágrimas amargas que mudam o gosto do dia
lágrimas que se perdem em sorrisos.

não que eu não cometa erros, cometo sim.
erros crassos e débeis como castelos de cartas
erros bestas como pisar na linha da amarelinha
erros grandes que mancham por muito tempo.

mas sonhar, desejar, chorar e errar não me diminuem
pelo contrário!
me tornam mais forte e mais leve.

pena?
pena eu tenho de quem não sonha
não deseja
não chora
não erra.