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sábado, 25 de agosto de 2012

o teatro da crueldade II


segundo manifesto

'confesso ou não-confesso, consciente ou inconsciente, o estado poético, um estado transcendente de vida, é no fundo aquilo que o público procura através do amor, do crime, das drogas, da guerra ou da insurreição. o teatro da crueldade foi criado para devolver ao teatro a noção de uma vida apaixonada e convulsa; e é neste sentido de rigor violento, de condensação extrema dos elementos cênicos, que se deve entender a crueldade sobre a qual ele pretende se apoiar. essa crueldade, que será, quando necessário, sangrenta, mas que não o será sistematicamente, confunde-se, portanto com a noção de uma espécie de árida pureza moral que não teme pagar pela vida o preço que deve ser pago.

(...) pretende não abandonar para o cinema a tarefa de produzir os Mitos do homem e da vida modernos. mas fará isso de um modo que lhe é próprio, isto é, em oposição à tendência econômica, utilitária e técnica do mundo, voltará a pôr em moda as grandes preocupações e as grandes paixões essenciais que o teatro moderno cobriu com o verniz do homem falsamente civilizado. esses temas serão cósmicos, universais, interpretados segundo os textos mais antigos, tirados das velhas cosmogonias mexicana, hindu, judaica, iraniana, etc.

(...) renunciaremos à superstição teatral do texto e à ditadura do escritor. e assim reencontraremos o velho espetáculo popular traduzido e sentido diretamente pelo espírito, sem as deformações da linguagem e os escolhos do discurso e das palavras.

(...) no teatro digestivo de hoje, os nervos, ou seja, uma certa sensibilidade fisiológica, são deixados deliberadamente de lado, entregues à anarquia individual do espectador, o teatro da crueldade pretende voltar a usar todos os velhos meios experimentados e mágicos de ganhar a sensibilidade.'



antonin artaud, in o teatro seu duplo, p 61, 62, 63






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