Entre mim e o abismo não há nada.
Ou quase nada.
Um passo apenas.
Um único passo.
Um mergulho cego e mudo e surdo.
Já não sou eu.
Sou o abismo que há em mim.
Profundo. Negro.
Não sei o que fiz do que fui.
Não sei o que fazer do que nunca mais serei.
Olho as pessoas na rua e não consigo entender de onde vem tanto riso, tantas alegrias, tantos planos. A vida se resolve numa esquina, num pé-sujo qualquer. Uma cerveja, uma trepada e fim.
Por que diabos isso não me basta?
Por quais infernos ainda terei que passar?
Por quantos desertos?
Até quando assim tão só?
Não creio em deuses.
Não crio pássaros, nem fecho gaiolas.
A vida me levou de mim.
Me raptou. Estuprou. Espancou. Abandonou.
A vida, isso que para muitos é dádiva, é para mim somente dor.
Não conheço ninguém em Pasárgada.
Não sou amiga de reis.
Então o que fazer de mim?
Onde colocar tanta dor?
Mais um passo.
Entre mim e o abismo não há mais nada.
Respiro.
Abro bem os olhos e vou.
Lindo, Xanda!!!!
ResponderExcluirMas que triste!!
Carlinha
LINDO, profundo e simples.
ResponderExcluirEntre você e o abismo, há palavras!
Abraços, Ju ;)
Lidamente triste!... Os mais belos textos são tristes. Quando estão felizes, as pessoas em geral não escrevem; namoram, bebem, vão à praia. Quando se está melancólico e isolado, aí sim, a escritura vem em nosso socorro, possibilitando-nos respirar mais um pouco...
ResponderExcluirContinue viva, minha querida aluna, porque o mundo feito só com pagodeiros sorridentes seria muito sem graça...
No comentário acima, onde se lê "lidamente", leia-se "lindamente".
ResponderExcluirNossa!
ResponderExcluirRuboriei!!
Relaxa, rapaz, continuarei aqui, à beira do abismo, mas aqui...