saudades do tempo em que meus dedos não pensavam.
tempo em que escrever era uma única ação.se realizava simultaneamente no coração, no papel e na cabeça.
tempo em que eu não me preocupava com o sentido, ou com a falta de.
saudade de quando o lápis guiava minha mão e não encontrava empecilhos.
é noite e ainda estou mais que acordada.
é noite alta e a lua me desperta e me lança na escuridão.
não há como mandar no meu corpo, não há como me deixar tranquila, com aquela imensa bola prateada boiando no céu.
lá fora os lobos cantam pra lua e se embebedam de suor e sons.
não há como deixar passar tantos símbolos.
não há possibilidade de ignorar os parangolés que dançam pra mim.
ou em mim. e sem mim. e de mim.
parangolés como risos soltos no espaço, gargalhadas viajando no ar.
riem de quê? de quem? de mim? por quê?
rio eu.
(que o Fernando não me leia)
rio de eu.
assim mesmo: de. não para ou com. mas sim de.
quero não pensar, não sofrer, quero que essa marca suma. não quero mais sangrar, nem chorar, nem tremer. ou temer.
saudade de quando as palavras manchavam o papel num jorro contínuo.
único. forte.
gosto de palavra boa na boca.
gosto – substantivo masculino - de palavra.
gosto – verbo intransitivo – de palavra.
“gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões”.
ser. estar.
saudades do tempo em que meus dedos não pensavam.
19/04/2011
Eu a leio sempre, o que me gera sensações agradáveis...
ResponderExcluirMas o verbo "gostar" é TI, e não VI como vc disse...
Saudades de dar aula de Gramática pra vcs...
Abçs!
mestre, sei disso, foi licença poética: gosto intransitivamente de palavras, sejam quais forem, sem complementos.
ResponderExcluirsabia que vocÊ falaria!
muitas saudades de estudar Gramática!
Muito bom você aqui!!
Eu te amo. Ele. E também tenho saudades.
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