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sexta-feira, 30 de abril de 2010

Repleta de Sol

É quase inverno, mas um sol quente me esquenta enquanto escrevo, aqui nessa pedra olhando o mar.
A minha volta as pessoas passam apressadas, atarefadas e nem reparam no sol, no vento ou no mar. Paisagem cotidiana que vai perdendo a cor à medida que se torna familiar.
Mas, sentado bem a minha esquerda, um homem pinta a paisagem, cavalete, tela, tinta e um olhar ávido que não perde nada: o barquinho do pescador, o iate do magnata, nem mesmo essa que vos fala ficou de fora da tela.
Quando sentei aqui pensando no que escrever e vi as pessoas com passos rápidos cumprindo suas rotinas, achei que escreveria algo triste, amargo e seco como elas, mas esse homem à minha esquerda me fez lembrar de algo que li há muito tempo: “(...) A morte é a única conselheira sábia que possuímos. Toda vez que sentir, como sente sempre, que está tudo errado e você está prestes a ser aniquilado, vire-se para sua morte e pergunte se é verdade. Ela lhe dirá que está errado; que nada importa realmente, além do toque dela. Sua morte lhe dirá: ‘Ainda não o toquei’. (...)”
É. Nada disso importa e cabe à mim beber desse sol, desse mar, me deixar lamber pelo vento e não me deixar esquecer que sou eu quem escreve a minha história e que ela pode sim ser quente e clara, intensa e doce, louca e feliz.
Sorrio. Fecho meu caderno e vou embora com a alma e o corpo repletos de sol!

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