- As árvores, meu filho, não têm alma! E esta árvore me serve de empecilho... É preciso cortá-la, pois, meu filho, Para que eu tenha uma velhice calma!
- Meu pai, por que sua ira não se acalma?! Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?! Deus pôs almas nos cedros... no junquilho... Esta árvore, meu pai, possui minha'alma!...
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa: "Não mate a árvore, pai, para que eu viva!" E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco, O moço triste se abraçou com o tronco E nunca mais se levantou da terra!
'sente-se à minha janela, amor, olhando a chuva...'* pegue minha mão, esvazie o pensamento, encha-se de versos, cantarole uma canção.
'sente-se à minha janela, amor,'* e me escreva longas cartas: fale-me de meus cabelos longos, de meus lábios doces, dos meus olhos de noite...
e 'chore, amor, chore',* chore muito, chore tanto, e cante, e dance, e goze, e seja, e sonhe... 'o tempo continua passando...'* *bert russell, norman meade, w. m. thornton, janis joplin, gabriel mekler
é preciso admitir, no ator, uma espécie de musculatura afetiva que corresponde a localizações físicas dos sentimentos. o ator é como um verdadeiro atleta físico, mas com a ressalva surpreendente de que ao organismo do atleta corresponde um organismo afetivo análogo, e que é paralelo ao outro, que é como o duplo do outro embora não aja no mesmo plano. o ator é como um atleta do coração. também para ele vale a divisão do homem total em três mundos; e a esfera afetiva lhe pertence propriamente. ela lhe pertence organicamente. os movimentos musculares do esforço são como a efígie de um outro esforço duplo, e que nos movimentos do jogo dramático se localizam nos mesmos pontos. enquanto o atleta se apóia para correr, o ator se apóia para lançar uma imprecação espasmódica, mas cujo curso é jogado para o interior. todas as surpresas da luta, da luta-livre, dos cem metros, do salto em altura encontram no movimento das paixões bases orgânicas análogas, têm os mesmos pontos físicos de sustentação.
cabe ainda a ressalva de que aqui o movimento é inverso e, com respeito à respiração, por exemplo, enquanto no ator o corpo é apoiado pela respiração, no lutador, no atleta físico é a respiração que se apóia no corpo. a questão da respiração é de fato primordial, ela é inversamente proporcional à importância da representação exterior. quanto mais a representação é sóbria e contida, mais a respiração é ampla e densa, substancial, sobrecarregada de reflexos. e a uma representação arrebatada, volumosa e que se exterioriza corresponde uma respiração de ondas curtas e comprimidas. não há dúvida de que a cada sentimento, a cada movimento do espírito, a cada alteração da afetividade humana corresponde uma respiração própria. ora, os tempos da respiração têm um nome, como nos mostra a Cabala; são eles que dão forma ao coração humano e sexo aos movimentos das paixões. o ator não passa de um empírico grosseiro, um curandeiro guiado por um instinto mal conhecido. no entanto, por mais que se pense o contrário, não se trata de ensiná-lo a delirar.
mas se eu não tenho voz, de que
adianta gritar? de quê?
haverá algum chapolin colorado
capaz de salvar? um de vocês? não! claro que não, vocês todos só querem ver,
são voyers, imprestáveis, imóveis... sentados em suas certezas absolutas,
mascando chicletes e cagando nos outros. podem olhar, podem me ver! estou aqui
nua! crua! olha pra mim, anda, olha, essa sou eu ou é você? hein? quem é essa?
ontem fui ao show da marisa monte. presente de filha, acalanto, carinho... um espetáculo maravilhoso, sonora e visualmente.
marisa canta emoldurada por obras de artistas contemporâneos, numa instalação poeticosonoravisual belíssima! e marisa nos respeita, todos os detalhes estão pensados, amarrados, de tal modo que o que aparece é o espetáculo,o conjunto, o coletivo.
nem nos lembramos das mesas do vivo rio grudadas umas às outras de modo indecente!
saí de lá aliviada, de alma lavada, enxaguada e quarada!
obrigada, aisha e thico!
evoé, marisa!
no vídeo, a obra High definition (2010), de Luiz Zerbini, serve de cenário para a canção descalço no parque de jorge benjor, banda Dadi, Carlos Trilha, Pedro Mibielli,Glauco Fernandes, Bernardo Fantini, Marcus Ribeiro, Pupillo, Lúcio Maia e Dengue
De linho te vesti De nardos te enfeitei Amor que nunca vi Mas sei ...
Sei dos teus olhos acesos na noite Sinais de bem despertar Sei dos teus braços abertos a todos Que morrem devagar ...
Sei meu amor inventado que um dia Teu corpo pode acender Uma fogueira de sol e de fúria Que nos verá nascer
Irei beber em ti O vinho que pisei O fel do que sofri E dei
Dei do meu corpo um chicote de força Rasei meus olhos com água Dei do meu sangue uma espada de raiva E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias Cravei meus braços com setas Descobri rosas alarguei cidades E construí poetas
E nunca te encontrei Na estrada do que fiz Amor que não logrei Mas quis
Sei meu amor inventado que um dia Teu corpo há-de acender Uma fogueira de sol e de fúria Que nos verá nascer
Então:
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos, Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas, Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas, Nem forcas, nem cardos, nem dardos, nem guerras Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos, Nem pedras, nem facas, nem fomes, nem secas, Nem feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas,
Nem mal ... ... ...
no vídeo: música de fernando tordo, nuno nazareth fernandes e tózé brito, interpretação susana félix, in canções de ary dos santos.